Um terço dos alunos e metade dos professores com sinais de sofrimento psicológico
Cerca de um terço dos alunos e metade dos professores tem sinais de sofrimento psicológico, revela o estudo Saúde Psicológica e Bem-Estar, que será divulgado esta terça-feira num encontro sobre flexibilização, na Feira. A partir de setembro, os docentes vão ter formação sobre competências socioemocionais e autocuidado. E vão ser prorrogados os contratos de 1100 técnicos especializados, recrutados no ano passado para reforçar a resposta das escolas à pandemia. A pesquisa volta a realizar-se daqui a dois anos.
“Não é uma catástrofe nacional. É um período de vulnerabilidade”, conclui a coordenadora do estudo Margarida Gaspar de Matos. A docente da Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa explicou, num encontro com jornalistas, que, nos estudos sobre saúde mental, cerca de 20% da amostra acusa sinais de mau estar. Daí que os resultados nos alunos não sejam alarmantes, pois a maioria sente-se bem. Já os dados dos docentes são mais preocupantes, admite. “Um professor perturbado com 30 alunos à frente não vai conseguir fazer um bom serviço. Nem por ele, nem pelos alunos”, alerta.
Entre os alunos do Pré-Escolar e 1.º Ciclo, os dados revelam que cerca de um quarto (23,2%) é irrequieto e distrai-se com facilidade (24,9%), mas 88,6% têm, pelo menos, um “bom amigo” – um indicador positivo, frisa a investigadora. Já os do 5.º ao 12.º anos, “entre um terço e um quarto refere sentir, várias vezes por semana ou quase todos os dias, tristeza (25,8%)”, irritação (31,8%) e nervosismo (37, 4%). Cerca de dois em cada 10 (20,5%) têm dificuldade em fazer amigos e quatro em cada 10 (42,7%) ficam muito tensos quando estudam para testes. Para 34,3%, “a vida na escola ficou pior ou muito pior com a pandemia”, mas, em família, ficou na mesma para mais de metade (56,7%). Os problemas emocionais vão aumentando com a idade.
“Penso que os alunos, tirando uma minoria, em pouco tempo estarão prontos para outra. Recuperados”, considera Margarida Gaspar de Matos.
Vida na escola piorou
Nos docentes, o impacto da pandemia foi mais acentuado. A maioria (78,5%) está satisfeita com o seu trabalho, porém mais de metade (55,3%) assume sentir-se nervoso, triste (53,4%) ou irritado (51,3%) várias vezes por semana. 72,5% assumiram que, nas semanas que antecederam o questionário, tiveram dificuldades em relaxar e 68,2% reagiram em demasia a determinadas situações. Quase 70% garantem que a vida na escola ficou pior ou muito pior com a pandemia.
O ministro João Costa está preocupado com docentes e alunos. Até porque, frisou, existe uma correlação entre bem-estar e resultados escolares. As conclusões do estudo, sublinhou, já levaram à tomada de medidas como a prorrogação dos contratos de 1100 técnicos ou a formação para docentes em parceria com a Fundação Calouste Gulbenkian (serão abrangidos entre 200 a 300 e será criada uma bolsa de formadores). João Costa pretende, ainda, que, nas negociações com as instituições do Ensino Superior sobre a revisão da formação inicial de professores, sejam reforçadas áreas, como a gestão de emoções e diversidade.