Dificuldades de aprendizagem: o que são e o que não são?
As dificuldades de aprendizagem são uma desordem de caráter permanente e interferem com a capacidade de o cérebro receber, processar, armazenar e comunicar a informação.
Ainda há quem confunda e por isso nunca é de mais repetir: as dificuldades de aprendizagem (DA) não se devem ao facto de as crianças serem preguiçosas ou não se esforçarem o suficiente. Nem são sinónimo de baixa inteligência – o desconhecimento e a desinformação devem ser combatidos.
Sabia, por exemplo, que nos Estados Unidos da América, de acordo com um estudo recente, uma em cada quatro pessoas pensa que as dificuldades de aprendizagem são causadas pela excessiva exposição a conteúdos televisivos? A maioria dos 2 mil adultos participantes neste inquérito, concordou que as dificuldades de aprendizagem são uma realidade preocupante e crescente, mas revela total desconhecimento sobre o que são e como podem ser ultrapassadas ou minoradas.
As dificuldades de aprendizagem são uma desordem de caráter permanente e interferem com a capacidade de o cérebro receber, processar, armazenar e comunicar a informação. Pode prejudicar, por exemplo, a leitura, a escrita, o raciocínio e os cálculos matemáticos.
É comum a criança começar a manifestar sinais de falta de atenção, ansiedade ou até mesmo inquietação a partir dos 5 anos. As causas são diversificadas e tendem a interferir no desempenho escolar.
De acordo com o relatório do Questionário à Educação Inclusiva 2020/2021, divulgado em junho deste ano, há em Portugal mais de 78 mil alunos com necessidades educativas especiais. A maioria (31,9%) frequenta o terceiro ciclo do ensino básico e apenas 4,4%, a educação pré-escolar.
Para contribuir para o esclarecimento, aqui estão cinco importantes factos, mais comuns, sobre as dificuldades de aprendizagem:
1. Crianças com DA têm disfunções cerebrais, não problemas de motivação
O cérebro tem um papel fundamental na nossa vida, sobretudo na aprendizagem. E precisa estar em pleno funcionamento para que as DA não surjam. Quando existem disfunções cerebrais, a forma como aprendemos torna-se, inevitavelmente, diferente, refletindo-se numa menor eficácia no processamento da informação. A aquisição da linguagem, das palavras escritas e dos números tende a ser mais complexa.
Felizmente, o cérebro em desenvolvimento tem uma qualidade conhecida como “plasticidade”. Não é claro se os cérebros podem ser “retreinados” para processar informação de forma mais eficiente, mas com diferentes tipos de instrução e apoio, as crianças conseguirão trabalhar as suas fraquezas e aprender de diversas maneiras ao seu ritmo.
2. As crianças com DA crescem até se tornarem adultos com DA
Não existe um tratamento ou qualquer solução cientificamente aprovada que coloque um fim às dificuldades de aprendizagem. Por isso, dizemos que as DA não têm cura, mas hoje em dia, já existem vários métodos bem-sucedidos para contornar ou minimizar as limitações que vão surgindo. Com o acompanhamento adequado, na escola e em casa, a criança conseguirá superar as suas dificuldades e desenvolver, mais tarde, uma carreira profissional de sucesso.
3. As crianças com dificuldades de aprendizagem são “tão inteligentes como tu e eu”
Ter DA não significa menor inteligência, antes pelo contrário. Há vários casos conhecidos a nível mundial de pessoas que conseguiram superar as suas limitações de aprendizagem, alcançando brilhantes carreiras profissionais. O famoso jornalista norte-americano Anderson Cooper e a atriz Whoopi Goldberg são dois extraordinários exemplos. É importante que saibamos que, entre as pessoas com DA, é comum encontrarmos quem apresente elevados níveis de criatividade e talento em diversas áreas, por exemplo, nas artes, distinguindo-se das demais.
4. Nem todas as crianças com DA têm dislexia
A dislexia é a DA mais comum e implica a troca de letras, a inversão das sílabas e a não memorização das palavras. Há quem diga que se deve a fatores genéticos com origem no cérebro, coluna vertebral e nervos. Nunca esquecer que há também, a discalculia que afeta as competências matemáticas e a disgrafia as de escrita.
5. Crianças com DA também se debatem com problemas fora da escola
A escola não é, ao contrário do que possa parecer, o único local onde as crianças apresentam dificuldades de aprendizagem. Crianças com DA sentem igualmente problemas em contornar as barreiras sociais que se erguem por causa desta perturbação; algumas não conseguem controlar o seu comportamento impulsivo; outras manifestam dificuldades em ler a linguagem corporal; outras em seguir conversas.
As dificuldades de aprendizagem afetam de uma maneira geral a vida diária, a forma como a organizamos, como gerimos o dinheiro e, por exemplo, lemos as horas no relógio. Podem não ser tão facilmente percetíveis como algumas questões de saúde, mas são bem reais e devem ser levadas a sério.
Quanto mais cedo o diagnóstico e a intervenção psicopedagógica melhor tenderá a ser a respetiva evolução da criança e a probabilidade de se tornar um adulto produtivo e bem-sucedido profissionalmente.
Fonte: https://www.sapo.pt/
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