Saúde Digital: Proteger as Crianças num Mundo Permanentemente Online
A tecnologia tornou-se parte do nosso dia a dia e as crianças são expostas a ecrãs desde tenra idade. Dispositivos como smartphones, tablets, computadores e televisões oferecem-nos entretenimento e aprendizagem, mas também podem ter impactos significativos na saúde e no desenvolvimento infantil. Hoje celebra-se o dia Mundial da Internet, é a altura ideal para descobrir quais são os efeitos do uso prolongado de ecrãs nas crianças e o que pode fazer para contornar a situação.
QUAIS SÃO OS EFEITOS DA EXPOSIÇÃO A ECRÃS NA SAÚDE E NO DESENVOLVIMENTO INFANTIL?
O tempo prolongado em frente aos ecrãs pode limitar as oportunidades de desenvolvimento motor, como correr e pular, mas também afetar o desenvolvimento motor fino. Assim, podem ocorrer atrasos no desenvolvimento motor e problemas de saúde física, como obesidade infantil, devido ao sedentarismo.
Esse uso frequente pode ainda levar à fadiga ocular, irritação nos olhos e até mesmo a problemas de visão a longo prazo, especialmente se as crianças não fizerem pausas regulares ou não tiverem uma postura adequada. Quando a exposição a ecrãs ocorre antes de dormir pode interferir na qualidade do sono das crianças, prejudicando o seu descanso e crescimento.
Também o desenvolvimento cognitivo e emocional das crianças pode ser afetado devido ao uso excessivo de ecrãs, especialmente em idades jovens. O tempo gasto em dispositivos eletrónicos pode substituir atividades fundamentais, como brincar ao ar livre, interagir com outras pessoas e explorar o mundo, podendo levar a atrasos na linguagem, a isolamento social, entre outros. Passar demasiado tempo em frente aos ecrãs pode igualmente estar associado a problemas de saúde mental (ex. depressão ou ansiedade) e comportamentais (ex. agressividade), especialmente quando as crianças consomem conteúdos inadequados para a idade e não são supervisionados por adultos. A exposição constante a estímulos rápidos e dinâmicos (como ocorre nos dispositivos eletrónicos) pode ainda afetar a capacidade de atenção e concentração das crianças, sobretudo quando têm de focar-se em atividades menos estimulantes.
Por último, pode ocorrer o desenvolvimento de dependências quando as crianças usam muito as tecnologias, com a necessidade constante de estar conectado ou a jogar. Sintomas como irritabilidade, ansiedade e agressividade quando é retirado o aparelho ou quando passam algum tempo sem ele, podem ser indicativos desta dependência.
EXISTEM RECOMENDAÇÕES SOBRE O TEMPO DE USO DE ECRÃS DE ACORDO COM A IDADE?
As organizações de saúde, como a American Academy of Pediatrics (AAP), fornecem diretrizes para o uso seguro de ecrãs por crianças:
Bebés e Crianças até 2 anos: é recomendado evitar totalmente o uso de ecrãs para crianças com menos de 18 meses, com exceção de videochamadas com familiares.
Crianças dos 2 aos 5 anos: o tempo em frente aos ecrãs deve ser limitado a 1h por dia de conteúdo de alta qualidade.
Crianças acima do 6 anos: recomenda-se o uso de ecrãs de cerca de 2h por dia de conteúdos de alta qualidade, excluindo o tempo gasto em atividades escolares online ou com propósitos educacionais. Os pais devem estabelecer limites consistentes para o uso de dispositivos eletrónicos, garantido que as atividades online não prejudiquem o sono, atividades física ou as interações sociais no seu dia a dia.
COMO POSSO GERIR O USO DE ECRÃS DOS MAIS PEQUENOS?
As diretrizes para crianças acima dos 6 anos de idade destacam a importância de equilibrar o tempo de uso de ecrãs com outras atividades saudáveis, como brincar ao ar livre, socializar com amigos e familiares, e realizar atividades físicas e criativas. Os pais devem considerar estas recomendações como um ponto de partida e ajustá-las conforme necessário para se adequar às necessidades e rotinas da família. Aqui estão as diretrizes básicas:
1. Estabeleça regras e limites: Os pais devem estabelecer limites claros sobre quanto tempo as crianças podem passar nos dispositivos eletrónicos, levando em consideração fatores como idade, atividades escolares e outras responsabilidades. Os pais devem encorajar o uso compartilhado de ecrãs, como assistir a programas de TV juntos ou jogar jogos de vídeo em família, para manter a interação e a comunicação.
2. Promova atividades alternativas: Incentive as atividades sem ecrãs em família ou com amigos, como brincadeiras ao ar livre, leitura, trabalhos manuais, jogos de tabuleiro, entre outras.
3. Seja um exemplo: Os pais devem mostrar bons hábitos de uso da tecnologia aos seus filhos. Os primeiros modelos de comportamento que as crianças seguem são os próprios pais.
4. Supervisione o conteúdo: É importante garantir que o conteúdo visto pelas crianças e adolescentes seja apropriado para a sua idade e que estejam seguras online. Os pais podem usar ferramentas de controlo parental para monitorizar o conteúdo e as atividades online.
5. Encoraje o equilíbrio com outras atividades: O tempo de uso de ecrãs não deve prejudicar outras atividades importantes para o desenvolvimento da criança, como o sono, a atividade física, o tempo de brincadeira livre, o tempo em família e as interações sociais presenciais.
6. Eduque sobre o uso das tecnologias: Ensine as crianças e adolescentes sobre práticas seguras online, incluindo privacidade, cyberbullying e respeito por outras pessoas.
O uso de ecrãs é inevitável na sociedade atual, mas é importante estabelecer limites e garantir que as crianças tenham uma experiência equilibrada com a tecnologia. Ao gerir o tempo e o conteúdo visto, os pais podem ajudar a garantir um desenvolvimento mais saudável para os seus filhos.
Ana Parreira
Psicóloga
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