Cuidar da Mente para Aprender Melhor
A saúde mental desempenha um papel crucial na aprendizagem e no desenvolvimento cognitivo dos alunos. Quando um aluno enfrenta dificuldades emocionais, como ansiedade, depressão ou stress excessivo, o impacto na sua capacidade de aprender e reter informações é significativo. Estudos recentes em Portugal mostram uma tendência preocupante em relação à saúde mental dos alunos. No ano letivo de 2022-2023, cerca de 45% de uma amostra de 13.000 adolescentes, com idades entre 11 e 21 anos, apresentaram sintomas depressivos. Mas, como é que a saúde mental influência o processo de aprendizagem? E o que pode ser feito para melhorar o bem-estar dos estudantes?
1. Concentração e Retenção de Informação
Estudantes com problemas de saúde mental enfrentam frequentemente dificuldades de concentração. A ansiedade, por exemplo, pode causar preocupações constantes, o que torna difícil a concentração noutros assuntos, como nas tarefas escolares. A depressão pode ter efeitos semelhantes. Sintomas como a fadiga e a falta de interesse afetam a capacidade do aluno em concentrar-se e em envolver-se nas aulas e no estudo. Quando a mente está sobrecarregada, a capacidade de absorver e reter novas informações fica comprometida.
2. Memória e Desempenho Escolar
Problemas como o stress, podem prejudicar a função da memória. O stress ativa a produção de cortisol, o que, em altos níveis, pode ter um impacto negativo nas áreas do cérebro responsáveis pela memória, como o hipocampo. Como resultado, os alunos podem ter mais dificuldade em lembrar-se de informações importantes durante exames ou ao realizar trabalhos.
3. Motivação e Procrastinação
A motivação é fundamental para o sucesso escolar. No entanto, estudantes com problemas de saúde mental muitas vezes sofrem de baixa motivação e procrastinação. Sentimentos de desânimo e desespero, comuns em quadros depressivos, podem fazer com que o aluno sinta que o esforço não vale a pena e não conclua as tarefas ou tenha baixo desempenho. A falta de motivação também pode estar ligada à dificuldade em organizar o tempo e em definir as prioridades, o que agrava a procrastinação.
4. Habilidades Sociais e Aprendizagem em Grupo
O ambiente escolar também exige algumas capacidades sociais para trabalhar em grupo, apresentações orais e interações com professores e colegas. No entanto, problemas de saúde mental, como a ansiedade social, podem inibir esses comportamentos. Alunos que evitam interações sociais perdem oportunidades de aprender em contexto de grupo, o que é fundamental para desenvolver habilidades críticas e criativas. O isolamento pode prejudicar não só o desempenho escolar, mas também a autoestima e autoconfiança do aluno.
5. Comportamento e Ambiente Escolar
A saúde mental também afeta o comportamento em sala de aula. Alunos que enfrentam problemas emocionais podem apresentar comportamentos disruptivos e mostrar desinteresse, prejudicando não apenas a sua própria aprendizagem, mas também o ambiente na sala de aula. Além disso, o stress e a ansiedade podem manifestar-se fisicamente, com sintomas como dores de cabeça ou de estômago, que levam a faltas escolares e prejudicam o desempenho escolar.
6. Prevenção e Apoio: O Papel dos Pais
Os pais desempenham um papel crucial ao criar um espaço de confiança para conversar sobre as preocupações dos seus filhos. Devem estar alerta para sinais precoces de problemas emocionais, articulando com a escola ou professores sobre possíveis causas e sintomas. Além da estimulação do diálogo, os pais devem promover estilos de vida saudáveis, ensinando a ter uma boa alimentação, rotinas de sono, gestão emocional, mas também proporcionando tempo para a prática de atividades físicas, criativas a tempo para as brincadeiras. O incentivo de relações saudáveis com os pares, impor limites no uso das tecnologias, promover tempo de qualidade em família, incentivar a autonomia nas crianças e reconhecer os seus esforços, são também boas estratégias para ajudar a um desenvolvimento metal saudável.
7. Prevenção e Apoio: O Papel da Escola
Dado o impacto da saúde mental no processo de aprendizagem, é essencial que as escolas promovam um ambiente de apoio emocional. Programas de bem-estar, como sessões de mindfulness e oficinas sobre gestão de stress, podem ajudar a reduzir os níveis de ansiedade e melhorar a resiliência dos estudantes. Também os professores devem ser conscientes e atentos para identificar sinais precoces de problemas emocionais e garantir que os alunos recebam o apoio adequado, seja através de orientação psicológica ou simplesmente mostrarem-se disponíveis para conversar.
Já existem alguns programas escolares portugueses que visam promover a saúde mental e estão a ter algum sucesso. O programa “Mais Contigo”, revelou que sintomas depressivos, principalmente entre as raparigas, estão a aumentar. Apesar de algumas intervenções terem conseguido reduzir os sintomas e melhorar o bem-estar, os efeitos prolongados da pandemia de COVID-19 continuam a impactar a saúde mental dos alunos. (Observador) (Observador). Outro programa, o “Por ti”, focado em alunos entre os 12 e 15 anos, também mostrou resultados positivos. As sessões de grupo ajudaram mais de dois terços dos alunos a aprender estratégias para regular as suas emoções, e a maioria dos participantes relatou que pretende aplicar essas estratégias no dia a dia (Observador).
Concluindo, a ligação entre a saúde mental e a aprendizagem é profunda. Ao promover o bem-estar emocional dos alunos, é possível melhorar o desempenho escolar, mas também prepará-los para lidar com os desafios da vida de forma mais tranquila e equilibrada. É responsabilidade de todos – escolas, pais e sociedade – garantir que a saúde mental seja uma prioridade no ambiente educacional e vida em geral. Apesar de já existirem iniciativas que se preocupam com esta problemática, ainda temos um longo caminho a percorrer!
Ana Parreira
Psicóloga
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